O Studio Ghibli é uma espécie de afetividade rodeada de mostras do que a imaginação humana é capaz de criar. Este ano, completei o ciclo dos filmes do estúdio japonês e compartilho aqui uma lista que vai dos que menos gostei aos que mais me encantaram:
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
domingo, 14 de junho de 2020
Se não posso abraçar, indico filmes 💓
É 2020 e ninguém imaginou que estaríamos em distanciamento social, limpando o pacote de cuscuz. Se não fossem os afetos e a arte, a gente não aguentaria. E nos altos e baixos dessa montanha russa de sentimentos, resolvi reacender a sala desse cinema indicando alguns filmes. Separei por categoria, e sempre que lembrar ou ver um novo, atualizo. Dicas são bem-vindas, há um item dedicado a sugestões das amizades. Os filmes estão me ajudando bastante nesse período, espero que ajudem vocês também. O cinema mostra que ainda conseguimos pulsar. [Atualizado em 20 de março de 2023]
Legenda:
Azul: o filme está na Netflix / Vermelho: contém link para o filme
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Machuca
Um filme de Andrés Wood, 2004.
O golpe militar de Augusto Pinochet matou milhares de pessoas, marcou um povo e transformou vidas. Antes, dois garotos ousaram construir uma sincera amizade.
No Chile de 1973, o sonho que emergia dos ideais populares acabou soterrado pela retomada do poder tradicional voltado ao capitalismo americano. Salvador Allende, socialista e até então presidente, ao mesmo tempo em que ganhava o apoio do povo, via-se encurralado pelos interesses da extrema direita e da receosa burguesia local, que exigiam o fim de seu comando.
O Chile era a exaltação de desejos e ideologias. A esquerda e a direita marchavam pelas ruas colorindo a realidade, dando sons às ruas, esquinas e praças da cidade. A história via-se viva, pronta para ser contada.
A realidade histórica mistura-se então ao enredo audiovisual.
A realidade histórica mistura-se então ao enredo audiovisual.
A rotina de Gonzalo Infante adequava-se, de maneira distante, a esse contexto. O sensível garoto, membro mais novo de uma família da elite chilena, pertencia ao conceituado cotidiano escolar da Saint Patrick. Comandada pelo padre progressista McEnroe , ironicamente vindo dos EUA, a escola iniciou uma política inclusiva alinhada às condutas sociais de Allende.
Já Pedro Machuca envolvia-se com a vivacidade histórica da época. Morador de uma das comunidades de Santiago, o menino enfrentava uma realidade em que a desigualdade social alimentava as aspirações por justiça. Junto a outros garotos de bairros periféricos, Machuca chega a Saint Patrick, levado pelos ideais do socialista americano.
O encontro de dois mundos estava decretado. Os jovens iniciaram uma surpreendente amizade, vivenciaram as descobertas da juventude e passaram a conhecer um outro Chile. O novo de um era o corriqueiro do outro. Nessa trajetória, a disputa de classe que inflamava os ânimos da população passou a ser representada na relação dos garotos.
Os contrates, as dúvidas e os medos puseram os dois frente a frente. Nesse cara a cara, os sentimentos nos lembram do quão complicado pode ser o relacionamento humano, e, ao mesmo tempo, de como lindo pode ser o desenrolar de uma amizade. Pedro Machuca e Gonzalo Infante nos presenteiam com as diversas facetas humanas.
Apesar de Machuca intitular a produção, Gonzalo possui grande importância na obra. Nele percebemos que a alienação nem sempre pressupõe a insensibilidade diante das injustiças. Ao entrar em contato com o verdadeiro Chile da década de 70, o jovem rapaz compreende que o país superficial em que ele vive é um circulo fechado, uma negação do momento histórico que seus compatriotas estão vivendo. Gonzalo se perde para começar a se encontrar.
André Wood pôs doçura no Chile em transição de 73, alimentou com lágrimas as esperanças esquecidas e nos trouxe a triste história revestida do companheirismo, sentimento que não deixaremos nunca de conviver, de um lado ou de outro da luta.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
O homem que incomoda
O Homem que incomoda é um daqueles filmes que a explicação vai além do que está a nossa frente. Requer reflexões e pelo menos 5 minutos de silêncio e concentração após o seu fim e o início do letreiro final. O titulo é muito bem-vindo, quando se vê que realmente existe um incômodo constante. Jens Lien, diretor, fez um longa parado, tenso, sem muita cor e muito menos vida. Falando assim, parece que não tem como parar e ver um filme desses, mas acreditem, como tem! Certas coisas vão sendo desvendadas aos poucos, as que não são, fica a nosso cargo imaginar, deduzir ou simplesmente ficar sem saber, porque simplesmente não precisam. A narrativa é acompanhada por uma trilha muito adequada. São canções instrumentais, que acabam nos levando a uma angústia tensa e criam um forte envolvimento com a obra de Jens Lie.
Falando um pouco do seu enredo, temos o seguinte: Andreas chega a uma cidade aparentemente distante e perceptivelmente estranha. O local é totalmente desprovido de diferenças, cores, gostos e as pessoas são extremamente passivas, frias e sem sentimentos. Como Andreas foi parar ali, ele não sabe. Muito menos como sairá e como conseguirá se adaptar a essa nova realidade. Ele ganha um emprego, uma esposa e passa a desconfiar de tudo e de todos. O desespero começa a lhe perturbar. A morte não existe, muito menos há vida. Não se pode ver crianças correndo. Não se pode ver o sentido daquela existência. Todos estão fechados em seus mundos e tudo é racional ao extremo. Essa sociedade está predestinada a viver daquele mesmo jeito para sempre, sem expectativas, rancores, medos, emoções ou dúvidas. Os que vão de encontro a esse regime, são retirados e colocados em um lugar inóspito, um nada.
Falando um pouco do seu enredo, temos o seguinte: Andreas chega a uma cidade aparentemente distante e perceptivelmente estranha. O local é totalmente desprovido de diferenças, cores, gostos e as pessoas são extremamente passivas, frias e sem sentimentos. Como Andreas foi parar ali, ele não sabe. Muito menos como sairá e como conseguirá se adaptar a essa nova realidade. Ele ganha um emprego, uma esposa e passa a desconfiar de tudo e de todos. O desespero começa a lhe perturbar. A morte não existe, muito menos há vida. Não se pode ver crianças correndo. Não se pode ver o sentido daquela existência. Todos estão fechados em seus mundos e tudo é racional ao extremo. Essa sociedade está predestinada a viver daquele mesmo jeito para sempre, sem expectativas, rancores, medos, emoções ou dúvidas. Os que vão de encontro a esse regime, são retirados e colocados em um lugar inóspito, um nada.
No filme, temos a eterna referencia a metafísica. Além disso, percebe-se um outro paralelo, uma realidade abstrata. Mas que através de metáforas podemos ligar ao nosso dia a dia e nossa vida na Terra. O quanto nos prendemos a uma felicidade traçada? Jens Lien nos convida a rever a forma como levamos nossa vida, o jeito que encaramos e nos importamos ou não com coisas, pessoas e sentimentos.
De repente, a vida está ai e não está sendo vivida. De uma maneira geral e até individual. Será que nós estamos certos do que queremos para nós? Eu estaria buscando uma felicidade minha ou uma predisposta?
O Homem que incomoda nos “cutuca”, e se você conseguir assisti-lo até o final, pode ter certeza que terá valido a pena.
Classificação Indicativa: 16 anos
De repente, a vida está ai e não está sendo vivida. De uma maneira geral e até individual. Será que nós estamos certos do que queremos para nós? Eu estaria buscando uma felicidade minha ou uma predisposta?
O Homem que incomoda nos “cutuca”, e se você conseguir assisti-lo até o final, pode ter certeza que terá valido a pena.
Classificação Indicativa: 16 anos
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
The Elephant Man (O Homem Elefante)
O preto e o branco da obra de David Linx nos retratam a história sofrida de um homem que viveu de dores e sonhos em uma sociedade movida pelas aparências. E esse personagem real nos deu um novo significado à beleza na vida.
Assim que comecei a ver o Homem Elefante
sabia que algo de espetacular e especial estava a minha espera. Revolução
Industrial, sociedade inglesa do século XIX, John Merrick como uma das atrações
do circo dos horrores. Com 21 anos, o Homem Elefante tinha uma vida que ninguém
desejaria a ninguém. David Lynch coloca um cenário duro, real e lindo. Se
emocionar com o longa é um lugar comum, as cenas fortes, a fotografia linda e a
triste história real se misturam em um amontoado de surpresas e de angustias.
Isto me faz dizer que esse é um dos melhores filmes que eu já vi. Ao longo da
obra, não há como não se apaixonar pelo jovem com o corpo todo deformado e de
sensibilidade transbordando nos olhos amedrontados. David fez o encontro do
sensível com o horror. Do horror com a beleza. Da beleza com a tristeza. Aos
poucos vamos desvendando John, vamos nos afeiçoando por ele e, assim, deixamos
as lágrimas escorrerem. Simplesmente um filme incrível, de aprendizado e de se
querer o bem. Uma obra que nos deixa reflexões, fantasias e assim se faz ser
lembrada. Sim, repito, um dos melhores. E se em cada cena me pergunto como essa
historia pode ser real, porque ela é, não saberia explicar tamanha
grandiosidade se ela não fosse. O Homem Elefante nos deixa a sensação de que
existe algo de singelo em todos os lugares, em cada um de nós e em cada
sentimento. Jonh Merrick foi um grande homem, O Homem elefante é um grande
filme e com certeza ficará na mente de quem o veja. Uma produção que faz a
gente se confrontar com os nossos próprios julgamentos, nossos preconceitos e
nos leva para uma viagem pertinho de um mundo interior único, único como cada
um é, seres humanos que somos, apenas seres humanos, e incríveis.
Classificação Indicativa: 16 anos
domingo, 11 de setembro de 2011
11 de setembro de 1973 - Classificação Indicativa 14 anos
No dia que é lembrando muitos dias antes de sua chegada, trago o curta metragem do diretor britânico Ken Loach.
E não, o tema central não é o 11 de setembro de 2001 dos EUA (que também considero um triste dia na nossa história). Nesse post, o foco é o 11 de setembro de 1973 no Chile. E esse, além de triste e terrível, foi desumano e atingiu trabalhadores e trabalhadoras chilenos em um dia que marcou a trajetória da luta popular no mundo.
Em 1973, o então presidente chileno Salvador Allende Gossen, socialista e eleito pelo voto popular, sofreu um golpe do chefe das forças armadas chilenas, Augusto Pinochet, que, com o apoio do governo americano e financiado pela CIA e pelas transnacionais norte-americanas, instalou o caos em um único dia da história e que vem perpetuando suas dores e tristes lembranças até hoje, 38 anos depois. Anos esses que só tendem a se redobrar, pois um acontecimento assim não é esquecido, a dor é sentida de longe, tanto em tempo como em espaço.
Infelizmente, esse 11 de setembro latino-americano pouco é lembrado, mas Ken Loach o concebeu em uma produção de quase 11 minutos e fez o trágico acontecimento de 1973 ganhar trilha, vozes, depoimentos, cenas e a dor, como ela bem foi difundida nesse dia. Originalmente feito para compor uma mostra de curtas que abordariam o acontecimento do ano de 2001, Ken levanta a trágica e covarde batalha contra a democracia e o povo chileno concretizado anos antes das Torres Gêmeas serem atacadas.
O curta lançado em 2002, ano no qual o 11 de setembro americano faria 1 ano, merece ser difundido e conhecido. Esse acontecimento histórico em forma de produção nos aproxima da luta e da necessidade de se conhecer cada vez mais a história e abrir as portas para causas e lutas justas, populares e que tragam autonomia, dignidade e força para qualquer trabalhador e trabalhadora em qualquer lugar do mundo.
"Eu sempre tenho confiança na inteligencia do povo. Então, se o povo organizado é inteligente, por que deveríamos ter medo de uma organização popular?" - Costureira Chilena em uma das falas do curta.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
José e Pilar
Quando li “Ensaio sobre a cegueira”, fiquei imaginando como seria o gênio por trás do sotaque português. Sem dúvida, deveria ser alguém bem interessante de se conhecer e bater um papinho em um fim de tarde.
O documentário “José e Pilar” me mostrou um Saramago do jeitinho que eu pensava: inteligente, engraçado, humano e sensível escritor. De quebra, veio acompanhado de sua mulher e amada, Pilar. Outro ser humano fantástico que tive muito prazer em conhecer. (...)
A intensa vida do casal é representada em lindas fotografias, diálogos prazerosos, inteligentes e divertidos. É o dia a dia, são os pensamentos e, principalmente, o amor. Mais de duas horas de filme que nos levam a reflexões e nos desnudam em frente a dois seres sensíveis e fortes. Despertam o choro e o riso, em passagens doces, descontraídas, fortes.
Vemos o trabalho em cima de seus romances, a agenda cheia de eventos e formalidades. A doença maldita, o recuperar esperançoso. A vida que é vivida, mas que sabemos, e ele mais do que todos, que tem uma data certa para chegar ao fim. E ai não existe espaço para o medo.
Placa da Rua Pílar Del Río, que cruza com a Rua José Saramago em Azinhaga, Portugal.
Vemos o trabalho em cima de seus romances, a agenda cheia de eventos e formalidades. A doença maldita, o recuperar esperançoso. A vida que é vivida, mas que sabemos, e ele mais do que todos, que tem uma data certa para chegar ao fim. E ai não existe espaço para o medo.
José e Pilar, Pilar e José. A ordem dos nomes não carrega importância. Vemos dois protagonistas. O diretor Miguel Gonçalvez Mendes trouxe à tona a personalidade de ambos, de maneira simples, real. Temos uma produção grandiosa, imagens que ultrapassam a questão da beleza e uma trilha musical agradável e romântica, como ela bem merecia que fosse.
Melhor ainda é descobrir que por trás desse belíssimo filme, existem toques conhecidos e que a gente, então, entende o porquê do resultado final ser tão rico. Fernando Meirelles é um dos grandes nomes os quais posso citar, o restante vocês podem conferir aqui.
Melhor ainda é descobrir que por trás desse belíssimo filme, existem toques conhecidos e que a gente, então, entende o porquê do resultado final ser tão rico. Fernando Meirelles é um dos grandes nomes os quais posso citar, o restante vocês podem conferir aqui.
Ainda bem que José Saramago e Pilar Del Río ousaram um dia se encontrar. Nos presentearam com romances, inspirações, sonhos...com a vida, na sua mais bela concepção.
Classificação Livre
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